Saturday, July 07, 2012

Senti que posso sentir.

Logo, logo. Sentir-te perto, eu quero.

Onde estás meu amor? Onde vais tu sem meu amor?
Estavas tão distante, como a um oceano de longitude, noutro Planeta, noutra Galáxia, noutra Constelação, e quanto mais distante, mais o meu amor chorava, a lágrima descia na face como suavizando a alma, teu amor purifica meu corpo e a reconhecer que estou vivo.

Só te queria dar uma flor, e partilhar esta lágrima contigo...

Monday, July 02, 2012

CAPÍTULO 11 - As deusas sujas.

O cio: A recuperação de uma sexualidade sagrada

Há um ser que vive no subterrâneo selvagem das naturezas das mulheres. Essa criatura faz parte da nossa natureza sensorial e, como qualquer animal completo, possui seus próprios ciclos naturais e nutritivos. Esse ser é curioso, gregário, transbordante de energia em certas horas, submisso em outras. Ele é sensível a estímulos que envolvam os sentidos: a música, o movimento, o alimento, a bebida, a paz, o silêncio, a beleza, a escuridão.

É esse aspecto da mulher que tem cio. Não um cio voltado exclusivamente para a relação sexual, mas uma espécie de fogo interior cuja chama cresce e depois abaixa, em ciclos. A partir da energia liberada nesse nível, a mulher age como lhe convém. O cio da mulher não é um estado de excitação sexual, mas um estado de intensa consciência sensorial que inclui sua sexualidade, sem se limitar a ela.

Seguem-se três histórias que encarnam o obsceno nos termos em que estamos usando a palavra, ou seja, uma espécie de encanto sexual/sensual que gera emoções agradáveis. As três tratam das deusas sujas. Chamo-as de sujas porque estiveram muito tempo vagueando debaixo da terra. No sentido positivo, elas pertencem à terra fértil, à lama, ao estrume — à substância criadora da qual se origina toda arte. Na realidade, as deusas sujas representam aquele aspecto da Mulher Selvagem que é tanto sexual quanto sagrado.

Baubo: a deusa do ventre

Há uma expressão muito forte que diz: Dice entre las piernas, "ela fala do meio das pernas". Essas pequenas histórias "do meio das pernas" são encontradas em todo o mundo. Uma delas é a história de Baubo, uma deusa da Grécia antiga, a chamada "deusa da obscenidade". Ela tem nomes mais antigos, como por exemplo Iambe, e aparentemente os gregos a adotaram de culturas muito mais antigas.

Ela é uma das divindades mais adoráveis e picarescas que habitaram o Olimpo. Esta é a minha versão da cantadora, baseada num resquício selvático de Baubo que ainda cintila na mitologia grega pós-matriarcal e nos hinos homéricos.

Deméter, a mãe-terra, tinha uma linda filha chamada Perséfone, que estava um dia brincando ao ar livre. Perséfone encontrou por acaso uma flor de rara beleza e estendeu os dedos para tocar seu lindo cálice. De repente, a terra começou a tremer e uma gigantesca fenda se abriu em ziguezague. Das profundezas da terra chegou Hades, o deus dos Infernos. Ele chegou alto e majestoso numa biga negra puxada por quatro cavalos da cor de fantasmas.

Hades apanhou Perséfone, levando-a para sua biga, em meio a uma confusão de véus e sandálias. Ele guiou então seus cavalos cada vez mais para dentro da terra. Os gritos de Perséfone foram ficando cada vez mais fracos à medida que a fenda foi se fechando como se nada tivesse acontecido. Por toda a terra, abateu-se um silêncio e o perfume de flores esmagadas.

E a voz da donzela a gritar ecoou nas pedras das montanhas e borbulhou num lamento vindo do fundo do mar. Deméter ouviu os gritos das pedras. Ela ouviu, também, o choro das águas. Arrancou, então, a grinalda dos seus cabelos imortais, deixou cair de cada ombro seus véus escuros e saiu a sobrevoar a terra como uma ave enorme, procurando, chamando por sua filha.

Naquela noite, uma velha à frente de uma gruta comentou com suas irmãs que havia ouvido três gritos naquele dia. Um, o de uma voz jovem que gritava de pavor; um outro que implorava ajuda; e um terceiro, o de uma mãe que chorava. Não se via Perséfone em parte alguma. E assim começou a procura longa e enlouquecida de Deméter por sua filha querida. Deméter esbravejava, chorava, gritava, fazia perguntas, procurava debaixo, dentro e em cima de todos os acidentes geográficos, implorava por misericórdia, implorava pela morte, mas não conseguia encontrar sua filha amada. Assim, ela, que havia gerado o crescimento perpétuo de tudo, amaldiçoou todos os campos férteis do mundo, gritando na sua dor.

— Morram! Morram! Morram!

Em decorrência da maldição de Deméter, nenhuma criança poderia nascer, nenhum trigo poderia crescer para se fazer pão, nenhuma flor para as festas, nenhum ramo para os mortos. Tudo ficou murcho e esgotado na terra crestada e nos seios secos. A própria Deméter não mais se banhava. Seus mantos estavam encharcados de lama; seus cabelos pendiam em cachos imundos. Muito embora a dor no seu coração fosse tremenda, ela não se entregava. Depois de muita investigação, de muitos pedidos e de muitos incidentes, tudo levando a nada, ela afinal perdeu as forças ao lado de um poço numa aldeia onde não era conhecida. E quando recostou seu corpo dolorido na pedra fresca do poço, chegou por ali uma mulher, ou melhor, uma espécie de mulher. E essa mulher chegou dançando até Deméter, balançando os quadris de um jeito que sugeria a relação sexual, e balançando os seios nessa sua pequena dança. E, quando Deméter a viu, não pôde deixar de sorrir um pouco.

A fêmea que dançava era realmente mágica, pois não tinha nenhum tipo de cabeça, seus mamilos eram seus olhos e sua vulva era sua boca. Foi com essa boquinha que ela começou a regalar Deméter com algumas piadas picantes e
engraçadas. Deméter começou a sorrir, depois deu um risinho abafado e em seguida uma boa gargalhada. Juntas, as duas mulheres riram, a pequena deusa do ventre, Baubo, e a poderosa deusa mãe da terra, Deméter.

E foi exatamente esse riso que tirou Deméter da sua depressão e lhe deu energia para prosseguir na sua busca pela filha, que acabou em sucesso, com a ajuda de Baubo, da velha Hécate, e do sol Hélios. Restituíram Perséfone à sua mãe. O mundo, a terra e o ventre das mulheres voltaram a vicejar.

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Sempre gostei mais dessa pequena Baubo do que de outras deusas na mitologia grega, talvez mais do que de qualquer outra figura, ponto final. Ela sem dúvida tem como origem as deusas do ventre do período neolítico, que são misteriosas figuras sem cabeça e às vezes sem pés e sem braços. É insignificante chamá-las de figuras de fertilidade, porque elas são muito mais do que isso. Elas são talismãs da conversa da mulher — vocês sabem, aquele tipo de conversa que as mulheres nunca, nunca mesmo, teriam na frente de um homem, a não ser que fosse sob circunstâncias raras. Esse tipo de conversa.

Além do mais, a pequena deusa Baubo nos dá a idéia interessante de que um pouco de obscenidade pode ajudar a desfazer uma depressão. E é verdade que certos tipos de riso, que provêm de todas as histórias que as mulheres contam umas para as outras, histórias que são tão apimentadas ao ponto de serem de total mau gosto... essas histórias ativam a libido. Elas acendem o fogo do interesse da mulher pela vida.

E quanto a "falar com a vulva", trata-se simbolicamente de falar a partir da primae materia, o nível mais básico e honesto da verdade — a boca vital. O que mais haveria a dizer além de que Baubo fala do filão mestre, da mina profunda, literalmente das profundezas. Na história em que Deméter procura sua filha, ninguém sabe que palavras Baubo teria realmente dito a Deméter. Mas podemos ter algumas idéias.

Coyote Dick*

* Dick é a forma hipocoristica de Richard, mas é também um termo vulgar para designar o pênis. (N. da T.)

Era uma vez Coyote Dick, e ele era tanto a criatura mais esperta quanto a mais tonta que jamais se podia esperar encontrar. Ele estava sempre querendo comer alguma coisa, sempre trapaceando as pessoas para conseguir o que queria e, em qualquer outra hora, estava dormindo.

Bem, um dia quando Coyote Dick estava dormindo, seu pênis ficou realmente entediado e resolveu abandonar Coyote para viver sozinho uma aventura. Foi assim que o pênis se soltou de Coyote Dick e saiu correndo pela estrada. Na realidade, ele pulava pela estrada afora já que possuía só uma perna.

E ele foi pulando e pulando, e se divertindo até que saltou da estrada e entrou na floresta, onde — Ah, não! — ele pulou direto numa moita de urtigas.

— Ai! — gritou ele. — Ai, ai, ai! — berrou ele. — Socorro! Socorro!

O barulho dessa gritaria toda acordou Coyote Dick e, quando ele estendeu a mão para dar partida no coração com a manivela, como de costume, viu que ela não estava mais lá. Coyote Dick saiu correndo pela estrada, segurando-se no meio das pernas, e afinal encontrou seu pênis passando pela maior dificuldade que se pudesse imaginar. Com grande delicadeza, Coyote Dick tirou seu pênis aventureiro do meio das urtigas, acarinhou-o, tranqüilizou-o e o devolveu ao seu lugar certo.

“A moral é que, mesmo depois de Coyote Dick sair do meio das urtigas, elas fizeram seu pau coçar feito louco para todo o sempre. E é por isso que os homens estão sempre chegando perto das mulheres e querendo se esfregar nelas com aquele olhar de "Estou com uma coceira". Pois é, aquele pau universal está coçando desde a primeira vez que fugiu do dono.”

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É esse o tipo de história que eu realmente acho que Baubo contou. Seu repertório inclui qualquer coisa que faça as mulheres rirem desenfreadas, sem ligar para as amídalas aparecerem, com a barriga solta, com os selos balançando.

No sagrado, no obsceno, no sexual, há sempre uma risada selvagem à espera, um curto período de riso silencioso, a gargalhada de velha obscena, o chiado que é um riso, a risada que é selvagem e animalesca ou o trinado que é como uma volata. O riso é um lado oculto da sexualidade feminina: ele é físico, essencial, arrebatado, revitalizante e, portanto, excitante. É um tipo de sexualidade que não tem objetivo, como a excitação genital. É uma sexualidade da alegria, só pelo momento, um verdadeiro amor sensual que voa solto e que vive, morre e volta a viver da sua própria energia. Ele é sagrado por ser tão medicinal. É sensual por despertar o corpo e as emoções. Ele é sexual por ser excitante e gerar ondas de prazer. Ele não é unidimensional, pois o riso é algo que compartilhamos com nosso próprio self bem como com muitos outros. É a sexualidade mais selvagem da mulher.

Segue-se mais um exemplo de histórias de mulheres e de deusas sujas. Essa história conheci quando criança. É surpreendente o que as crianças ouvem que os adultos acham que elas não ouvem.

Uma viagem a Ruanda

O general Eisenhower ia visitar suas tropas em Ruanda. O governador queria que todas as mulheres nativas se postassem ao longo da estrada de terra para dar vivas e acenar em boas-vindas a Eisenhower quando ele passasse no seu jipe. O único problema era que as mulheres nativas nunca usavam roupa a não ser um colar de contas e às vezes um minúsculo cinto de correia.

Não, não, isso não seria conveniente. Portanto, o governador chamou o chefe da tribo e lhe falou do seu problema.

— Não se preocupe — disse o chefe. Se o governador conseguisse algumas dúzias de saias e blusas, ele se certificaria de que as mulheres se apresentariam vestidas nesse acontecimento especial. E esses trajes o governador e os missionários da região conseguiram obter.

No entanto, no dia do desfile e apenas poucos minutos antes de Eisenhower descer pela longa estrada no seu jipe, descobriu-se que apesar de todas as mulheres estarem usando obedientemente as saias, elas não haviam gostado das blusas e as haviam deixado em casa. Pois agora todas as mulheres; estavam enfileiradas dos dois lados da estrada, com saias, mas com o peito nu, e sem mais nenhuma roupa, nem mesmo roupa de baixo.

Ora, o governador ficou apoplético ao saber disso e convocou, irado, o chefe. Este lhe assegurou que sua mulher havia conversado com ele, garantindo-lhe que as mulheres haviam concordado com um plano para cobrir os seios quando o general estivesse passando.

— Você tem certeza? — berrou o governador.

— Tenho toda a certeza — respondeu o chefe. Bem, não havia muito tempo para discutir, e nós só podemos tentar adivinhar qual foi a reação do general Eisenhower quando seu jipe veio passando ruidoso e uma mulher de seios nus atrás da outra levantava graciosamente a frente da saia rodada e cobria o rosto com ela.

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Jung observou que, se alguém procura seu consultório queixando-se por um motivo sexual, o verdadeiro motivo muitas vezes era mais um problema do espírito e da alma. Quando uma pessoa relatava um problema de natureza espiritual, muitas vezes era na realidade um problema de ordem sexual.

Nesse sentido, a sexualidade pode ser imaginada como um bálsamo para o espírito, sendo, portanto, sagrada. Quando o riso sexual é medicinal, ele é um riso sagrado. E aquilo que provoca o riso medicinal é também sagrado. Quando o riso ajuda sem prejudicar, quando ele alivia, reorganiza, põe em ordem, reafirma a força e o poder, esse é o riso que gera a saúde. Quando o riso deixa as pessoas alegres por estarem vivas, felizes por estarem aqui, com maior consciência do amor, elevadas pelo eros, quando ele desfaz sua tristeza e as isola da raiva, ele é sagrado. Quando elas se tornam maiores, melhores, mais generosas, mais sensíveis, ele é sagrado.

No arquétipo da Mulher Selvagem, há muito espaço para a natureza das deusas sujas. Na natureza selvagem, o sagrado e o irreverente, o sagrado e o sexual, não estão separados, mas vivem juntos como imagino um grupo de velhas esperando na estrada que nós apareçamos. Elas estão ali na sua psique, esperando que você apareça, experimentando suas histórias umas com as outras e rindo como loucas.

Postado por Carmen Corrêa - fonte original: http://lobasquecorrem.blogspot.com/2011/11/11-as-deusas-sujas.html

Friday, June 22, 2012

Frases Sobre Auto-Conhecimento

"Auto-conhecimento é o grande poder pelo qual nós compreendemos e controlamos nossas vidas." (Vernon Howard)

"O que reside atrás de nós e o que reside à nossa frente são de minúscula importância comparados ao que reside dentro de nós." (Oliver Wendell Holmes)

"Quão desesperadamente difícil é ser honesto consigo mesmo. É muito mais fácil ser honesto com as outras pessoas." (Edward Benson)

"O conhecimento de si mesmo é a mãe de todo conhecimento. Portanto estou incumbido conhecer a mim mesmo, me conhecer completamente, conhecer minhas minúcias, minhas características, minhas sutilezas, e cada átomo meu." (Kahlil Gibran)

"Para fazer boas coisas no mundo, primeiro você precisa saber quem é você e o que dá sentido à sua vida." (Robert Browning)

"É melhor ser odiado pelo que você é do que ser amado pelo que você não é." (André Gide)

"Nosso eu interior não é algo que se encontre. É algo que se cria." (Thomas Szasz)

"A verdadeira profissão do homem é encontrar seu caminho para si mesmo."
(Hermann Hesse)

"Poucos são aqueles que vêem com seus próprios olhos e sentem com seus próprios corações." (Albert Einstein)

"O que é necessário para mudar uma pessoa é mudar sua consciência de si mesma." (Abraham H. Maslow)

"A próxima fronteira não está somente à sua frente, ela está dentro de você."
(Robert K. Cooper)

"A mais profunda raiz do fracasso em nossas vidas é pensar, 'Como sou inútil e fraco'. É essencial pensar poderosa e firmemente, 'Eu consigo', sem ostentação ou preocupação." (Dalai Lama)

"Existe apenas um canto do universo que você pode ter certeza de aperfeiçoar, que é você mesmo." (Aldous Huxley)

"O mundo é um grande espelho. Ele reflete de volta o que você é. Se você é carinhoso, se você é bondoso, se você é prestativo, o mundo se mostrará carinhoso, bondoso e prestatito para você. O mundo é o que você é." (Thomas Dreier)

"Por favor, diga-me quem você é e o que você quer. E se você pensa que estas são questões simples, tenha em mente que a maioria das pessoas vive suas vidas inteiras sem chegar a uma resposta." (Gary Zukav)

"Quando eu me despojo do que eu sou, eu me torno o que eu poderia ser." (Lao Tsé)

"Na hora que você pega na bola, se você não sabe o que fazer com ela, tente outro esporte." (Julius Boros)

"Enquanto eu sou isso ou aquilo, eu não sou todas as coisas simultaneamente."
(Meister Eckhart)

"As pessoas se interessarão por você se você se interessar pelo que as faz se interessarem." (Frank Romer)

"Eu não creio que Deus se importa onde nos graduamos e o que fizemos para ganhar a vida. Deus quer saber quem nós somos. Descobrir isso é o trabalho da alma - é o nosso verdadeiro trabalho da vida." (Bernie Siegel)

"Você só consegue encontrar do lado de fora o que você possui em seu interior."
(Adolfo Montiel Ballesteros)

"A vida não examinada não vale a pena ser vivida." (Sócrates)

"Aquele que conhece os outros é sábio, aquele que conhece a si próprio é iluminado."
(Lao Tsé)

"De vez em quando você tem que fazer uma pausa e visitar a si mesmo." (Audrey Giorgi)

"Em cada respiração, surge a possibilidade de um novo aspecto de nós mesmos."
(Wayne Muller)

"As pessoas gastam uma vida inteira buscando pela felicidade; procurando pela paz. Elas perseguem sonhos vãos, vícios, religiões, e até mesmo outras pessoas, na esperança de preencherem o vazio que as atormenta. A ironia é que o único lugar onde elas precisavam procurar era sempre dentro de si mesmas." (Ramona L. Anderson)

"Não há nada mais genuíno do que se afastar do coral e aprender o som da sua própria voz." (Po Bronson)

"Somente podemos dizer que estamos vivos naqueles momentos em que nossos corações estão conscientes de nossos tesouros." (Thornton Wilder)

"O melhor modo de encontrar a si mesmo é se perder servindo aos outros."
(Mahatma Gandhi)

"Qualquer situação na qual você se encontre é um reflexo exterior do seu estado interior de existência." (El Morya)

"A maioria de nós está em contato com nossa intuição quer saibamos disto ou não, mas normalmente temos o hábito de duvidar dela ou contradizê-la tão automaticamente que nós nem percebemos que ela tem falado." (Shakti Gawain)

"As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem." (Santo Agostinho)

"Sabemos o que somos, mas não o que poderíamos ser." (William Shakespeare)

"É preciso coragem para crescer e tornar-se o que você realmente é." (E. E. Cummings)

"Duas pessoas têm vivido em você por toda a sua vida. Uma é o ego, tagarela, exigente, histérico, calculista; a outra é o ser espiritual escondido, cuja silenciosa voz de sabedoria você somente ouviu ou reparou raramente - você revela em si mesmo o seu próprio guia sábio." (Sogyal Rinpoche)

"Precisamos continuamente olhar para dentro de nós mesmos. Observemos nosso ser interior, encontremos nossa voz única e aprendamos a prestar atenção a ela, e teremos então a experiência de vida que merecemos." (Dirk Benedict)

"As pessoas e circunstâncias ao meu redor não fazem de mim o que eu sou, elas revelam quem eu sou." (Dr. Laura Schlessinger)

"Você pode viver toda uma vida e, ao final dela, saber mais sobre outras pessoas do que você sabe sobre si mesmo." (Beryl Markham)

"Um único evento pode despertar dentro de nós um estranho totalmente desconhecido." (Antoine de Saint-Exupéry)

"Ser autêntico é literalmente ser seu próprio autor, discobrir suas próprias energias e desejos naturais, e então encontrar seu próprio modo de agir sobre eles." (Warren G. Bennis)

"Todos nós temos o extraordinário codificado dentro de nós, esperando para ser liberado." (Jean Houston)

"Misterioso e intimidante para contemplar, o cérebro humano é a coisa mais complexa que existe, e a tarefa mais difícil em que ele pode se empenhar é entender a si mesmo."
(David Noonan)

"Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão sobre nós mesmos." (Carl Gustav Jung)

"Afortunado realmente é o homem conhece precisamente e a si mesmo, e tem uma noção correta entre o que ele pode conseguir e o que ele pode usar." (Henri Cartier-Bresson)

"Existe aquela parte dentro de nós que se sente feia, deformada, inaceitável. Esta parte, acima de tudo, devemos aprender a gostar, aceitar, e chamá-la pelo nome."
(Macrina Wiederkehr)

"Um conhecimento verdadeiro de nós mesmos é conhecimento de nosso poder."
(Mark Rutherford)

Teoria do conhecimento - Gnosiologia

O fenómeno do conhecimento é, ao mesmo tempo, um dos mais banais e dos mais difíceis de esclarecer. Pode dizer-se que desde que o homem é homem houve acontecimentos, mas só já numa fase adiantada da evolução humana é que se reflectiu sobre o próprio acto de conhecer.

De princípio, conhecem-se simplesmente as coisas e julga-se que elas se conhecem tais como são; não se pensa no acto do espírito pelo qual se obtém o conhecimento. Mais tarde, o homem verificou que os sentidos e a própria inteligência erravam e, por isso, começou a desconfiar e a pôr em dúvida o valor do seu conhecimento. Foi esta experiência do erro que obrigou o espírito a voltar-se das coisas para si próprio, a fim de analisar o próprio acto de conhecimento, saber o que ele é, determinar a sua essência, descobrir o seu mecanismo e resolver o problema do seu valor. Esta marcha crítica, quanto ao conhecimento, é obra essencialmente filosófica e só apareceu, quando o espírito humano atingiu um certo desenvolvimento - foi destas reflexões que nasceu a teoria do conhecimento ou gnosiologia, que se designa geralmente por problema crítico.

A teoria do conhecimento tem precisamente por objecto o estudo da possibilidade do conhecimento, da sua origem da sua natureza ou essência, do seu valor e limites e, ainda, do problema da verdade. O acto de conhecer é a actividade do espírito pela qual se representa um objecto ou uma realidade. É um acto do espírito e não uma simples reacção automática mais ou menos adaptada às circunstâncias; não é propriamente um acto de conhecimento o sentar-me na cadeira, mas sim o saber porque me sento e como me sento. O resultado do acto de conhecer é uma representação e, portanto, conhecer é representar alguma coisa distinta do sujeito que conhece.

Há, por conseguinte, no conhecimento três elementos: o sujeito que conhece, o objecto conhecido e a relação sujeito - objecto. Este objecto pode ser exterior ao sujeito, como por exemplo, a caneta com que escrevo; pode ser interior, como a maior tristeza ou o meu pensamento; e pode, ainda, identificar-se com o próprio sujeito, como ao procurar conhecer-me a mim próprio. Mas mesmo no caso de identificação do sujeito com o objecto, não deixam de existir aí os três elementos referidos, pois o "eu" que é conhecido apresenta-se ao "eu' conhecedor como uma realidade distinta, mas em relação com ele.

A história da filosofia mostra-nos que os problemas do conhecimento interessaram mais ou menos todos os filósofos desde a velha Grécia, mas sem constituírem uma parte autónoma da filosofia. Com efeito, a teoria do conhecimento ou gnosiologia, como disciplina própria, só apareceu na Idade Moderna, a partir de Locke, que, no seu livro "Ensaio sobre o entendimento humano", tratou directamente da origem, natureza e valor do conhecimento. Desde então, a teoria do conhecimento mereceu as atenções de muitos filósofos que nela têm visto uma das partes da filosofia, com o seu valor e lugar próprio no conjunto dos problemas filosóficos.

A teoria do conhecimento abrange, portanto os seguintes problemas:

1- Possibilidade do conhecimento: É possível conhecer a verdade e possuir a certeza? Ou, ao contrário não podemos passar as dúvida?- Dogmatismo, Cepticismo, Criticismo.

2- Origem do conhecimento - o nosso conhecimento procede apenas da experiência? Ou só da razão que usa certos dados chamados apriorísticos para organizar a experiência ? Ou ainda procederá o conhecimento da experiência e da razão ? - Empirismo, Racionalismo e Empírico-racionalismo.

3- Natureza ou essência do conhecimento - o conhecimento será uma representação ou modificação do sujeito, provocado pelos objectos existentes, independentemente do sujeito conhecedor ? Ou uma modificação puramente subjectiva criada pela consciência? - Realismo e Idealismo.


"(...) Quando se atenta no mundo que nos rodeia, não pode negar-se que ele aparece como uma inata variedade de fenómenos e de relações em movimento perpétuo.

Um número infinito de fenómenos e de relações, agindo uns sobre os outros e a que nem o homem escapa - tudo está no todo que flui -, eis o que uma observação atenta não pode deixar de revelar.

Porém, isso far-nos-á desesperar de conhecer, de saber se é possível conhecer o mundo externo ? Terá de levar-nos à conclusão de que o homem é prisioneiro do seu próprio pensamento, sem possibilidade de conhecer o universo que o rodeia ? É claro que não.

Neste momento registemos esta primeira conclusão que nos leva a outra - é que o conhecimento é um processo, um processo complexo em que há, por um lado, o homem com o seu pensamento e, por outro, dele desligado, o universo externo. (... ) O conhecimento é um processo. Nele podem, porém, distinguir-se várias fases com aspectos qualitativos diversos (fisiológicos, psíquicos, lógicos). Da sensação à percepção, da imagem captada por esta à elaboração racional, e depois à acção material do homem, à sua prática individual e à prática social conjunta, tanto acumulada ao longo do tempo como de uma colectividade em dada fase da sua evolução, eis o conjunto de elementos que se integram para produzir o conhecimento.

A Castro, A Evolução Económica de Portugal

1- O PROBLEMA DA POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO:

Reflectir sobre o conhecimento consiste em questionar o mesmo, o que significa que a própria problematização do conhecimento implica também questionar o valor dos conhecimentos humanos, ou seja, indagar sobre os critérios que permitem reconhecer uni conhecimento como verdadeiro. O que é que assegura ao homem que dado conhecimento é verdadeiro e não falso ? O homem pode conhecer a realidade e ter a certeza daquilo que conhece ?

Qual é então o critério que lhe permite reconhecer a verdade ?

A estas questões os filósofos foram respondendo de modos diferentes, dando origem a diferentes concepções teóricas, das quais se destacam duas teorias opostas: uma afirmativa - o Dogmatismo -, e outra negativa - o Cepticismo.

1.1 O Dogmatismo

O dogmatismo é a doutrina que admite a possibilidade do conhecimento certo. Assim como o realismo é a atitude natural do homem face ao mundo, o mesmo é válido para o dogmatismo: a percepção de um qualquer objecto leva-o a crer, naturalmente, na existência do mesmo não pondo sequer a dúvida de que o conhecimento desse objecto possa ser posto em causa.

O dogmatismo corresponde, portanto, à atitude de todo aquele que crê que o homem tem meios para atingir a verdade, assim como para ter a certeza de que a alcançou, pois considera que existem critérios que lhe permitem distinguir o verdadeiro do falso, o certo do duvidoso. O dogmático não se confronta com a dúvida, na medida em que não problematiza o conhecimento, ele parte simplesmente do pressuposto da possibilidade do conhecimento, tomando este como um dado adquirido, como algo que nem sequer é posto em questão.

"Dogmatikós em grego significa , "que se funda em princípios" ou ,é relativo a uma doutrina. (... ) Dogma é um ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina religiosa. Na religião cristã, por exemplo, há o dogma da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), a qual não deve ser confundida com a existência de três deuses, pois se trata apenas de um Deus é uno . Não importa se a razão não consegue entender, já que é um princípio aceite pela fé e o seu fundamento é a revelação divina. (... ) Quando transpomos esta ideia de dogma para áreas estranhas à religião, ela passa a ser prejudicial ao homem que, uma vez, na posse da verdade, se fixa nela e abdica de continuar a busca. O mundo muda, os acontecimentos sucedem-se e o homem dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas. Refractário ao diálogo, teme o novo e não raro torna-se intransigente e prepotente. Disse Nietzsche filósofo alemão do século XIX, que "as convicções são prisões". Quando o dogmático resolve agir, o fanatismo é inevitável. Em nome do dogma da raça ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus nos campos de concentração."

Aranha, e Martins, Filosofando - Introdução à Filosofia

"Dogma em grego significa, o que se manifesta como bom, opinião, decreto, doutrina. (...) Em filosofia, contudo, nunca a autoridade é, só por si, argumento decisivo: a própria verdade necessita de uma fundamentação interna que satisfaça as exigências da razão. Por isso, o termo adquiriu, frequentemente, sentido pejorativo, significando a adesão a alguma doutrina, sem prévia fundamentação crítica. O problema levantou-se. sobretudo, a propósito do problema gnosiológico.(...)"

Fragata, J."Dogmatismo " in Enciclopédia Logos, p. 145

A atitude habitual do homem comum é, de certo modo, próxima do dogmatismo. Habitualmente, não nos questionamos acerca do valor do conhecimento, não pomos em causa a nossa capacidade para estabelecer a verdade em determinadas áreas, não procuramos indagar da possibilidade da relação cognitiva sujeito-objecto e dos fundamentos dessa relação cognitiva. Para o senso comum, aquele conhecimento vulgar e banal, superficial e acrítico, a existência do objecto em si não é questionada, nem sequer a adequação ou inadequação do nosso conhecimento sensivel a esse objecto: "O senso comum responde logo que sim, que esse algo existe".

1.2 O Cepticismo:

O cepticismo é uma atitude pessimista que o homem tem face à possibilidade de poder alcançar um conhecimento verdadeiro; é a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir qualquer verdade com certeza absoluta. O cepticismo, na sua forma radical, nega totalmente a capacidade do sujeito para conhecer algo verdadeiramente, o que acaba por ser uma posição insustentável e contraditória, pois ao afirmar a impossibilidade de alcançar um conhecimento verdadeiro, está já a supor uma verdade - a verdade de que não há nada de verdadeiro.

Esta posição foi assumida, pela primeira vez, por volta de 270 a.C., por Pirrón. Este pensava que nada pode ser considerado verdadeiro ou falso, bom ou mau, belo ou feio, uma vez que o espírito é incapaz de afirmar ou negar seja o que for, por falta de motivos sólidos para o fazer. É, pois, de evitar afirmar ou negar o que quer que seja, isto é, deve suspender-se o juízo (epoché).

Já na Idade Moderna, Montaigne e Hume manifestaram uma atitude céptica; o primeiro no campo da reflexão ética, o segundo quanto à metafísica. De facto, o empresta David Hume, ao reduzir o conhecimento possível aos limites do observável (da experiência), nega a possibilidade de se atingir a certeza e a verdade reduzindo o conhecimento à probabilidade e plausibilidade.

"Skepticós em grego significa "que observa", "que considera". O céptico tanto observa e tanto considera, que conclui pela impossibilidade do conhecimento. Confrontando as diversas filosofias, percebe que são diferentes e ás vezes contraditórias, concluindo que é impossível aderir a qualquer uma delas.

Enquanto o dogrnático se apega à certeza de uma doutrina, o céptico conclui pela impossibilidade de toda a certeza e, neste sentido, considera inútil esta busca infrutífera que não leva a lugar nenhum. "

Aranha, e Martins o.p.citad

1.2.1 David Hume e o Cepticismo:

(...) É pois em vão que tentaremos determinar um só acontecimento, ou descobrir uma causa ou um efeito sem o auxílio da observação e da experiência.

Podemos, a partir daí, descobrir a razão pela qual nenhuma filosofia razoável e modesta conseguiu alguma vez indicar a causa última de uma operação natural, nem mostrar claramente a acção do poder que produz um só efeito no universo. Há acordo geral quando se afirma que o esforço último da razão humana é o de reduzir os princípios que produzem os fenómenos naturais a uma maior simplicidade e os numerosos efeitos particulares a um pequeno número de causas gerais por meio de raciocínios tirados da analogia, da experiência e da observação. Mas será em vão que tentaremos descobrir as causas destas causas gerais; e nunca ficaremos satisfeitos com uma explicação particular. Estas causas e estes princípios últimos serão sempre completamente subtraídos à curiosidade e investigação do homem.»

David Hume, Ensaio sobre o entendimento humano,

2- O PROBLEMA DA ORIGEM DO CONHECIMENTO:

De onde nos vêm as representações que nos servimos para compreender a realidade? De onde procede, fundamentalmente, o conhecimento ? Para que o conhecimento se possa considerar um autêntico conhecimento, é preciso que seja universal e necessário e, ao mesmo tempo, se aplique à realidade, que é singular e contingente. De onde deriva o conhecimento, de modo a satisfazer estas duas condições ? Se procede apenas da experiência satisfará a segunda, mas não a primeira - se é obtido só pela razão, terá carácter universal e necessário, mas não valerá da realidade.

Foi esta dificuldade que dividiu todos os filósofos em duas correntes opostas Empirismo e Racionalismo -, que o Empírico - Racionalismo procura conciliar. O Empirismo diz-nos que o conhecimento provém fundamentalmente da experiência sensível e a esta se reduz, não podendo elevar-se acima dos dados experimentais - por isso se diz que o conhecimento é "a posteriori". O Racionalismo, pelo contrário, valoriza, sobretudo a razão, que organiza, unifica e dá sentido aos dados recebidos espontaneamente da consciência. O Racionalismo, não encontrando na experiência, singular e concreta, explicação para o carácter geral e abstracto do conhecimento, afirma que a razão recebe certas ideias gerais que lhe servem para conhecer a realidade, ou cria certos dados chamados apriorísticos, com os quais organiza e interpreta a experiência - por isso se diz que o conhecimento é "a priori". Finalmente, a corrente Empírico-racionalista afirma que o conhecimento procede da experiência, mas não se reduz à experiência, para estes o conhecimento resulta dum processo de transformação de uma matéria prima dada pelos sentidos e elaborada pela capacidade organizacional do sujeito.

2.1 O Racionalismo:

Descartes, Leibniz e Spinoza são alguns dos representantes do racionalismo. Esta doutrina filosófica afirma que o conhecimento humano tem a sua origem na razão, que possui, ou representações inatas, ou capacidade de criar representações (Ideias gerais) dos objectos, às quais a realidade se submete. Deste modo, é sobre as ideias inatas que (segundo Descartes são as únicas que obedecem ao critério da clareza e da distinção) se constitui um conhecimento que pode ser considerado verdadeiro porque logicamente necessário e universalmente válido.

Os juízos determinados pela experiência não apresentam essas características, por isso, concluem os racionalistas, o verdadeiro conhecimento não pode fundamentar-se na experiência, mas sim na razão.

A matemática, um conhecimento predominantemente conceptual e dedutivo, é o modelo de conhecimento que serviu de base à interpretação racionalista, pois todos os conhecimentos matemáticos derivam de alguns conceitos gerais tomados como ponto de partida dos quais se concluem todos os outros, de acordo com as leis do pensar correcto, que foram definidas, como sabemos, pela ciência da lógica.

2.2 O Empirismo:

Enquanto que os filósofos racionalistas adoptam as matemáticas como o modelo de conhecimento a construir, Locke, Berkeley e Hume adoptam as ciências experimentais como modelo de conhecimento. Daí que todo o conhecimento comece pelos dados oriundos da experiência sensível, ao mesmo tempo que negam que a razão possua ideias inatas.

Vejamos agora um texto muito célebre, no qual Locke retoma a antiga tese da alma como "tábua rasa", na qual só a experiência inscreve conteúdos:

"Admitamos pois que, na origem, a alma é como que uma tábua rasa, sem quaisquer caracteres, vazia de ideia alguma: como adquire ideias? Por que meio recebe essa imensa quantidade que a imaginação do homem, sempre activa e ilimitada, lhe apresenta com uma variedade quase infinita? Onde vai ela buscar todos esses materiais que fundamentam os seus raciocínios e os seus conhecimentos? Respondo com uma palavra: à experiência. É essa a base de todos os nossos conhecimentos e é nela que assenta a sua origem. As observações que fazemos no que se refere a objectos exteriores e sensíveis ou as que dizem respeito às operações interiores da nossa alma, que nós apercebemos e sobre as quais reflectimos, dão ao espírito os materiais dos seus pensamentos. São essas as duas fontes em que se baseiam todas as ideias que, de um ponto de vista natural, possuímos ou podemos vir a possuir."

John Locke, Essay concerning human understanding, Collins, Livro 1, cap. II, p. 68

De facto, os empiristas, para justificarem a sua posição, vão buscar os argumentos às ciências experimentais, à evolução do pensamento e do conhecimento humanos. Ou seja, se as ideias fossem inatas, como pretendem os racionalistas, como justificar a sua ausência nas crianças? Por outro lado, nas ciências experimentais o conhecimento resulta da observação dos factos, na qual a experiência desempenha um papel fundamental. Deste modo, os empiristas são levados a privilegiar a experiência em detrimento da razão.

2.3 O EMPÍRICO - RACIONALISMO:

Nem o racionalismo nem o empirismo são respostas totais aos problemas que pretendem resolver. O racionalismo opõe-se ao empirismo, e a doutrina empírico-racionalista representa uma tentativa de estabelecer a mediação entre estas duas, afirmando que o conhecimento se deve à comparticipação da experiência e da razão.

O maior representante desta corrente é Kant, um filósofo alemão do séc. XVIII, que abordou a questão da origem do conhecimento procurando conciliar as duas doutrinas acima referidas - de facto, para Kant, todo o conhecimento começa na e pela experiência, mas não se limita a ela. Os elementos múltiplos, diversos e contingentes fornecidos pela experiência são integrados em conceitos que o próprio entendimento possui a priori. Deste modo, a experiência fornece a matéria, o conteúdo do conhecimento, enquanto que o entendimento lhe dá uma certa forma; o que significa que o conhecimento é sempre o resultado da junção de uma forma com uma matéria.

2.3.1 O apriorismo ou criticismo de Kant

Kant vai analisar criticamente ambas as doutrinas - o racionalismo e o empirismo -, concluindo da insuficiência de cada uma delas, se perspectivadas de um ponto de vista disjuntivo. Porém, se se conciliarem, talvez resolvam mais satisfatoriamente os problemas.

Kant considera, pois, que o conhecimento não pode fundamentar-se unicamente na razão, como pretendiam os racionalistas, mas também não pode reduzir-se unicamente aos dados da experiência. Esta é antes fonte dos dados recebidos pela nossa sensibilidade, mas devidamente organizados por determinados conceitos existentes no nosso conhecimento, conceitos que não derivam da experiência, pois são-lhe independentes o anteriores - são os conceitos puros do entendimento, a priori, e daí chamar-se apriorismo à doutrina desenvolvida por Kant. Então, para Kant, o conhecimento é como que o resultado de um processo de transformação de uma matéria prima dada pela experiência e apreendida pelo entendimento como tendo determinada significação.

"0 nosso conhecimento procede de duas fontes fundamentais do espírito: a primeira é o poder de receber as representações (a receptividade das impressões), a segunda, o de conhecer o objecto por meio dessas representações (espontaneidade dos conceitos). Pelo primeiro, um objecto é-nos dado; pelo segundo, ele é pensado em relação com esta representação (como simples determinação do espírito). Intuição e conceitos constituem, portanto, os elementos de todo o nosso conhecimento; de maneira que nem os conceitos sem uma intuição que lhes corresponda de algum modo, nem uma intuição sem conceitos, podem dar um conhecimento. (... )

Se chamamos sensibilidade à receptividade do nosso espírito, a capacidade que tem de receber representações na medida em que é afectado de alguma maneira, deveremos, em contrapartida, chamar entendimento à capacidade de produzirmos nós mesmos representações ou à espontaneidade do conhecimento. A nossa natureza implica que a intuição não pode nunca ser senão sensível , quer dizer, que contém apenas a maneira como somos afectados pelos objectos, enquanto o poder de pensar o objecto da intuição sensível é o entendimento. Nenhuma destas duas propriedades é preferível à outra."

Kant, Crítica da Razão Pura

Quer isto dizer que se não pode haver conhecimento sem experiência, continuamos a não ter conhecimento se nos limitarmos exclusivamente a esta. O mesmo se passa em relação à razão. Como sabemos, o verdadeiro conhecimento é aquele que, para além de permitir a sua adequação ao real que se quer conhecer, é também universalmente válido e necessário. O primeiro aspecto pressupõe a experiência como modo do homem contactar com a realidade, o segundo aspecto advém-lhe do facto de existirem conceitos e categorias que são a priori e, como tal, possuem as características de universalidade e de necessidade.

2.3.2 O Construtivismo de Piaget

Como apontamento final, não podíamos deixar de referir aqui a teoria operatória ou psicogenética de Piaget, que contribuiu igualmente para a compreensão do fenómeno de conhecimento como construção: tal como Kant, também Piaget considera que o conhecimento resulta dum processo de transformação de uma matéria prima dada pelos sentidos e elaborada pela capacidade organizacional do sujeito; pelo que a sua teoria se enquadra na corrente empírlco-racionalista de que temos vindo a ocupar-nos.

Como já vimos, Piaget no nosso século, retoma a ideia do conhecimento como uma construção por parte do sujeito a partir dos dados fornecidos pela experiência, procurando a sua justificação psicológica. Ao estudar como se formam as estruturas e as categorias que permitem o funcionamento da inteligência, Jean Piaget dá ao apriorismo de Kant uma versão biologista. Segundo a teoria operatória, o organismo tem que possuir determinadas características que tornem possível a troca de informação com o meio e a construção de conhecimento que, deste modo, não é dado nem é cópia do real. O conhecimento é, assim, fruto de uma interacção entre o sujeito e o meio implicando, por um lado a experiência sensível e, por outro, as estruturas cognitivas de que todo o sujeito é dotado e que lhe permitem construir o seu conhecimento com base nessa mesma experiência.

3. O PROBLEMA DA NATUREZA DO CONHECIMENTO:

Em todo o acto de conhecimento, como vimos, podemos considerar três elementos: o sujeito que conhece, o objecto conhecido e a relação entre o sujeito e o objecto. Para conhecer, o sujeito tem como que sair de si mesmo para ir ao encontro do objecto e apreender as suas propriedades, de modo a representá-lo no espírito. O conhecimento apresenta-se, assim, como uma representação na consciência.

Pode perguntar-se agora: essa representação foi provocada pelo objecto existente fora do sujeito? Neste caso, o conhecimento tem valor objectivo, porque atinge uma realidade que existe independentemente da nossa representação; o conhecimento é a representação das coisas de facto existentes. Ou essa representação será simplesmente uma criação da nossa consciência, à qual nada corresponde fora do sujeito ou, se corresponde, é como se não existisse, porque não pode conhecer-se? O conhecimento, assim, terá unicamente valor subjectivo; representará as modificações subjectivas e atingirá os nossos estádios de consciência.

Ora, perguntar pela natureza do conhecimento consiste precisamente em indagar qual dos dois pólos, sujeito ou objecto do conhecimento, é determinante; ou seja, se o que se conhece directamente é a representação do real, poder-se-á considerar que se conhece efectivamente o real ou apenas a sua representação, a sua imagem? Em resposta a esta perguntas temos duas teorias opostas: o Realismo e o Idealismo.

3.1 O Realismo:

A nossa atitude habitual é acreditar que existe um mundo de objectos físicos que existem independentemente do facto de estarem a ser percebidos por um sujeito, que são causa das nossas percepções e que estas nos dão a conhecer o mundo tal como ele é em si. Esta atitude é habitualmente designada por Realismo. doutrina que afirma que por meio do conhecimento atingimos uma realidade distinta da nossa representação e independente dela, mas que lhe corresponde. Por outras palavras, o realismo admite a existência da realidade exterior (ou do mundo externo) como sendo coisa distinta do pensamento ou das nossas representações, o que significa que, para o realismo, o nosso conhecimento atinge a própria realidade e não apenas as representações subjectivas - atinge o que é, e não o que pensamos que seja.

"0 homem da rua, que não reflectiu muito sobre o problema da percepção e do mundo físico, é realista: crê que existe um mundo físico que está aí, quer o percebamos ou não, e que podemos saber diversas coisas sobre ele. As cinco crenças seguintes parecem ser partilhadas por todos os seres humanos, e o conjunto constituído pelas quatro primeiras fundamenta a opinião que, às vezes, se denominou "realismo ingénuo".

1. Existe um mundo de objectos físicos (árvores, edifícios, colinas, etc.).

2. Pode conhecer-se a verdade dos enunciados acerca destes objectos por meio da experiência sensorial.

3. Estes objectos não só existem quando estão a ser percepcionados, como também quando não estão a ser percepcionados. São independentes da percepção.

4. Por meio dos nossos sentidos, percepcionamos o mundo físico quase tal qual ele é. Em geral, as nossas pretensões ao seu conhecimento, estão justificadas.

As impressões que temos das coisas físicas nos sentidos, são causadas por essas mesmas coisas físicas. Por exemplo, a minha consciência da mesa é causada pela própria mesa. Porém, não há uma única destas proposições que não tenho sido questionada por pessoas que sobre elas pensaram de modo sistemático. Qual poderia ser a base da sua dúvida ?"

3.2 O ldealismo:

Contrariamente ao realismo, o idealismo afirma que o objecto de conhecimento é produto do espírito, o que significa que o conhecimento é produto do sujeito e que as coisas não são mais do que conteúdos de consciência. Berkeley, por exemplo, pensava que o mundo exterior que percepcionamos só existe na nossa percepção. Daí a expressão: esse = percipi, isto é, há uma identidade entre o ser de algo e o ser apercebido.

O idealismo não nega propriamente a existência do mundo externo, mas reduz este às representações, ou seja, ao pensamento, às ideias. Como tal, o nosso conhecimento atinge apenas as modificações subjectivas e não a própria realidade - atinge o que pensamos e não o que é.

"Chama-se idealismo a toda a doutrina - e às vezes a toda a atitude - segundo a qual o mais fundamental, e aquilo pelo qual se supõe que se devem orientar as acções humanas, são ideais - realizáveis ou não, mas quase sempre imaginados como realizáveis. Então, o idealismo contrapõe-se ao realismo, entendido como a doutrina - e às vezes a atitude - segundo a qual o mais fundamental, e aquilo pelo qual se supõe que se devem orientar as acções humanas são as 'realidades' - as 'duras realidades' (... ). Considerando, pois, o idealismo como idealismo moderno e tendo em conta que o ponto de partida do pensamento idealista é o sujeito, pode dizer-se que este constitui um esforço para responder à pergunta: 'Como podem, em geral, conhecer-se as coisas ?' (... ) Para o idealismo, 'ser' significa primariamente 'ser dado na consciência, no sujeito, no espírito', 'ser conteúdo da consciência, do sujeito, do espírito', 'estar contido na consciência, no sujeito e no espírito.'

Mora, J.F., Dicionário de Filosofia, tomo I

4- O PROBLEMA DO VALOR DO CONHECIMENTO:

Posto isto, podemos agora perguntarmo-nos: o nosso conhecimento intelectual terá valor objectivo e absoluto, ou apenas valor subjectivo e relativo ?

Terá valor objectivo se atingir o real, a essência das coisas, os objectos, tendo também, assim, um valor absoluto, pois sendo imutável a realidade essencial, também o respectivo conhecimento terá carácter absoluto - realismo. Terá carácter subjectivo, se apenas atingir as modificações subjectivas, a maneira como pensamos a realidade, o que as coisas são para nós e não a própria realidade em si e, por isto, também terá valor relativo, porque vale só para nós e para todos os seres constituídos como nós - relativismo.

O valor e limites do conhecimento estão dependentes da atitude que se tomar quanto à sua origem e à sua natureza. Assim, o empirismo, o racionalismo. e o idealismo são teorias relativistas, enquanto que o empírico-racionalismo e o próprio realismo conferem ao conhecimento valor absoluto.

Senão vejamos:

para o Empirismo, o conhecimento tem um valor relativo; não só porque varia com a experiência (o que é verdadeiro para a experiência deste mundo poderá não o ser para um mundo diverso), mas porque se limita a conhecer os fenómenos e, por isso, vale só para o mundo constituído pelos fenómenos.

para o Racionalismo, a realidade é interpretada em função de certos dados da razão que traduzem as possibilidades do espírito humano nesse sentido e, assim, o seu valor também é relativo, urna vez que é válido apenas para os seres que tenham uma constituição psicológica como a nossa.

para o Idealismo, o conhecimento tem valor puramente subjectivo e relativo, limitando-se o homem a conhecer apenas as suas modificações subjectivas, às quais nada de material corresponde na realidade (Berkeley), ou a conhecer as aparências da realidade - os fenómenos - e não a realidade em si - os númenos (Kant).

Estas três doutrinas são, portanto relativistas

Mas outras há que conferem ao conhecimento um valor objectivo e absoluto:

para o Empírico-Racionalismo e para o realismo o conhecimento tem um valor objectivo e absoluto, porque atinge o fundo da realidade ou a sua essência, não se limitando ao conhecimento das suas aparências ou das suas manifestações. De facto, para estas duas doutrinas, o conhecimento, por ser fruto de elaboração intelectual a partir das realidades percepcionadas, tem valor objectivo, porque as características gerais (ideias) que afirmamos dos indivíduos, ou das coisas, existem de facto nelas. O mundo do conhecimento não é, portanto, uma cópia do mundo real, mas é uma construção intelectual e técnica, a partir dessa mesma realidade.

É conveniente precisar em que sentido é que o conhecimento do homem tem valor absoluto. Quando falamos no conhecimento como valor absoluto, não estamos a dizer que conhecemos a realidade total e perfeitamente, pois, sob este aspecto, o conhecimento é relativo, por estar em contínua evolução e ser maior para uns do que para outros. A verdade total é uma aspiração que se impõe tanto mais quanto maior for o número de conhecimentos que se possui. Isto significa que é o conhecimento da verdade que varia, e não a própria verdade. A verdade de hoje será sempre verdade; se o é para um indivíduo, sê-lo-á para todos, de todos os tempos e lugares - é neste sentido que afirmamos que o conhecimento tem um valor absoluto. O que é realmente verdadeiro ficará sempre verdadeiro e será integrado em novos conhecimentos, uma vez que o homem, sempre sedento de conhecer, vai descobrindo na realidade - novas propriedades e, assim, vai enriquecendo o seu conhecimento - é assim que funciona o conhecimento científico que, nesse sentido, é dinâmico e está em perpétua renovação. O que varia não é a verdade, mas o nosso conhecimento acerca dessa verdade.